Texto de autoria do Pr. Alex
Gadelha e adaptado por mim.
Quando pensamos em um tema como “a teologia da espiritualidade cristã”,
tentamos pautar valores e formas na relação do espírito humano com Deus. Isso
devido as múltiplas ofertas de “espiritualidade” que encontramos no mercado
religioso, principalmente nas prateleiras evangélicas.
De um lado, existe no caldeirão sincrético brasileiro um tipo de
espiritualidade que podemos denominar corporativa: são mantras, velas,
correntes e orações como meios de alcançar sucesso nos negócios ou criar uma
atmosfera zen no ambiente profissional. Sem falar no misticismo das
cartas, búzios e cristais, superstições voltadas principalmente para a área
emocional.
Do outro lado está à espiritualidade “gospel”, que mais se
identifica com uma cultura de consumo do que com a ética derivada dos
ensinos de Cristo. Tal cultura favorece os mercadores da religião, que lucram
com um tipo de fé burra e impulsiva. Os produtos oferecidos vão desde liturgias
de massa, até amuletos da fé, como chaveiros, caixinhas de promessas,
bíblias nos mais diversos formatos, modelos suficientemente irreconhecíveis ou
disfarçáveis. O problema não é a forma das bíblias e da liturgia, mas a
indiferença ao seu conteúdo, principalmente, o esquecimento da essência
registrada em suas páginas e da prática exigida na vida do leitor.
Tais “espiritualidades” apóiam-se na fé inflamada pelos símbolos,
ou seja, precisam do visível para crer no invisível. É a idéia do ver para
crer, uma forma de ceticismo revestida de prudência, onde a segurança dos sentidos
é defendida em detrimento da fé. No entanto, não podemos negar que a
espiritualidade possui seu lado visível. Pois a comunhão do nosso ser com Deus,
evidencia-se em ações, práticas e palavras coerentes com o modelo que Jesus nos
deixou. Como a Lei que gere o cristianismo não pode ser cumprida na
individualidade, a espiritualidade cristã deve primar pela experiência em
comunidade e por uma relação amorosa com o mundo sem Deus. Assim sendo, a saúde
de nosso espírito se mostra quando satisfaz a vontade de Deus na prática do bem
ao próximo. É um princípio presente em toda a Revelação, especialmente nos
escritos do Novo Testamento.
O apóstolo João, por exemplo, fala da impossibilidade de amar ao Deus
Invisível sem amar ao irmão a quem vê: “Se alguém disser: Amo a Deus, e
odiar o seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê,
não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este
mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (I Jo. 4:20,
21).
Já Tiago critica a inutilidade de palavras “abençoadoras” não
acompanhadas de gestos de amor. O seu ensino nos desafia a
mostrar a fé invisível através da visibilidade das obras. “Mas alguém diz:
Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as
minhas obras, te mostrarei a minha fé” (Tg. 2:18).
Jesus também mostrou perfeitamente equilíbrio na relação
invisível-visível. Ele cultivou momentos reservados de devoção a Deus
(Mt.14:23) e também revelou seu amor ao Pai em suas atitudes (Jo.14:31). A
característica marcante do relacionamento de Jesus era sua contínua submissão,
o prazer em fazer a vontade de Deus.
Portanto, perceba que não há como separar espiritualidade de vida
prática. O relacionamento invisível do nosso ser com Deus evidencia-se através
do bem que praticamos por meio do corpo (II Cor. 5:10).
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